Colagem de Wisława Szymborska
Há um ano, li "Riminhas para crianças grandes" de Wisława Szymborska, uma de minhas poetas favoritas. Embora o livro não tenha mexido muito comigo, com ele recebi o que considero uma jóia editorial: um encarte contendo reproduções das colagens que Szymborska costumava criar quando se isolava em seu apartamento durante os invernos. Nas colagens - posteriormente enviadas como postais a seus amigos - enxergo o mesmo que nos poemas: beleza, humor e estranheza em iguais medidas.
Passei algum tempo examinando cada colagem, uma delas me acertou em cheio. Na tradução do polonês, lemos:
Aproximadamente 72 músculos para falar uma palavra.
A isso se seguiu uma cena provavelmente ridícula pra quem assistisse de longe: comecei a recitar em voz alta toda sorte de palavras esdrúxulas, tentando entender como funcionavam as engrenagens dessa máquina que me leva a falar e falar.
72 músculos.
O combo instinto investigativo + procrastinação me colocou no modo pesquisa aleatória e descobri: 38 músculos para escrever uma palavra.
Numa matemática simples, descubro que minha preferência em lidar com qualquer nível de complexidade através da escrita talvez seja apenas um reflexo da minha imensa preguiça.
Ah, também neste dia me ocorreu que este seria um excelente nome pra minha newsletter. Com um ano de atraso, está criada. E viva o exercício de 38 músculos.
4 boas leituras para Janeiros e outros inícios
1) Do que falo quando falo de corrida (Haruki Murakami): Vejam bem, eu não corro e não pretendo correr. Comprei esse livro por impulso, peguei pra folhear enquanto limpava a estante, li uma página pra decidir se doaria ou ficaria com ele e não consegui largar até terminar. Essa é a leitura perfeita pra te colocar em movimento (De hater a fã do Murakami, hein Natachinha? Quem diria).
2) Na sala dos espelhos (Liv Strömquist): Como disse uma amiga querida (Camila :*), eu praticamente tenho um ppt pronto pra convencer qualquer um de que a Liv Strömquist é perfeita. Com referências que vão da cultura pop a filosofia, esse quadrinho nos convida a refletir sobre nossas "encenações do eu" nas redes sociais.
3) Sem tempo a perder (Ursula K. Le Guin): Uma reunião de ensaios escritos pela autora durante sua velhice, sobretudo sobre como envelhecer muda a percepção que temos do mundo a nossa volta. Pra quem, como eu, se sente relutante com a passagem do tempo durante as datas importantes do calendário.
4) Bahia de Todos-os-Santos: Guia de ruas e mistérios (Jorge Amado): É impossível ler Jorge Amado falando sobre Salvador e não comprar uma passagem pra Bahia em seguida. Desconfio que essa é a melhor atitude de ano novo que alguém pode ter.
Aleatoriedades
Frances-Ha, um filme pelo qual tenho muito carinho, agora está na Mubi;
Nesse vídeo bonito que salvei no Instagram, fotografias e reflexões do artista Saul Steinberg sobre máscaras;
Tenho ouvido muito Olodum. Ser criança anos 90 gostoso demais;
Conselhos da minha avó maravilhosa para 2024.
continue. amo vc.
Eu tinha salvado seu substack quando você postou, fui ler agora e me deparo com "amiga Camila" <3.
Só uma curiosidade: Se não me engano, foi com o livro do Jorge Amado em mãos que a Ana Maria Gonçalves decidiu que escreveria "Um defeito de cor", um dos melhores livros brasileiros dos últimos 20 anos, falo com tranquilidade